Espaço dedicado à troca de idéias e informações entre os profissionais de Psicopedagogia, Educação Inclusiva e Educação Infantil. Paz e Bem!

“Temos direito à igualdade quando a diferença nos inferioriza, e temos direito à diferença quando a igualdade nos descaracteriza”

(Boaventura de Souza Santos)

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Alfabetização sem Receita

Pegue uma criança de seis anos mais ou menos, no estado em que estiver, suja ou limpa, e coloque-a numa sala de aula onde existam muitas coisas escritas para olhar, manusear e examinar.Sirva jornais velhos, revistas, embalagens, anúncios publicitários, latas de óleo vazias, caixas de sabão, sacolas de supermercado, enfim, tudo o que estiver entulhando os armários de sua casa ou escola e que tenha coisas escritas.Convide a criança para brincar e ler, adivinhando o que está escrito. Você vai descobrir que ela sabe muita coisa!Converse com a criança, troque idéias sobre quem são vocês e as coisas que gostam ou não. Depois escreva no quadro algumas coisas que forem ditas e leia para ela.Peça à criança que olhe as coisas escritas que existem por aí, nas ruas, nas lojas, na televisão. Escreva algumas dessas coisas no quadro.Deixe a criança cortar letras, palavras e frases dos jornais velhos. Não esqueça de pedir para que ela limpe a sala depois, explicando que assim a escola fica limpa.Todos os dias leia em voz alta alguma coisa interessante: historinhas, poesia, notícia de jornal, anedota, letra de música, adivinhação, convite, mostre numa nota fiscal algo que você comprou, procure um nome na lista telefônica. Mostre também algumas coisas escritas que talvez a criança não conheça: dicionário, telegrama, carta, livro de receitas.Desafie a criança a pensar sobre a escrita e pense você também. Quando a criança estiver tentando escrever, deixe-a perguntar ou ajudar o colega. Aceite a escrita da criança. Não se apavore se a criança estiver comendo letras. Até hoje não houve caso de indigestão alfabética?.Invente sua própria cartilha, selecione palavras, frases e textos interessantes e que tenham a ver com a realidade da criança. Use sua capacidade de observação, sua experiência e sua imaginação para ensinar a ler. Leia e estude sempre e muito.

Receita de Alfabetização


Ingredientes:
1 criança de 6 anos
1 uniforme escolar
1 sala de aula decorada
1 cartilha
Preparo:Pegue 1 criança de 6 anos, limpe bem, lave e enxágüe com cuidado. Enfie a criança dentro do uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula (decorada com motivos infantis). Nas oito primeiras semanas, sirva como alimentação exercícios de prontidão. Na nona semana, ponha a cartilha nas mãos da criança.Atenção:tome cuidado para que ela não se contamine com o contato de livros, jornais, revistas e outros materiais impressos.Abra bem a boca da criança e faça com que ela engula as vogais. Depois de digeridas as vogais, mande-a mastigar uma a uma as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mínimo sessenta vezes. Se houver dificuldade para engolir, separe as palavras em pedacinhos.Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses, fazendo exercícios de cópia. Em seguida, faça com que a criança engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar.Ao fim do oitavo mês, espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas.Se isso acontecer considere a criança alfabetizada. Enrole-a num bonito papel de presente e despache-a para a série seguinte.Se isso não acontecer se a criança não devolver o que lhe foi dado para engolir, recomece a receita desde o início, isto é, volte aos exercícios de prontidão. Repita a receita quantas vezes for necessário. Se não der resultado, ao fim de três anos enrole a criança em um papel pardo e coloque um rótulo: Aluno Renitente.Se não gostar da receita PARABÉNS.Nesse caso use a alfabetização sem receita.

Tudo o que eu precisava saber, eu aprendi no Jardim de Infância...

A
 maior parte do que eu realmente precisava saber sobre viver e o que fazer e como ser, eu aprendi no Jardim da Infância. Na verdade, a sabedoria não está lá no alto morro da universidade, mas sim bem ali, na caixa de areia da escolinha.
A
s coisas que aprendi foram estas: reparta as coisas, jogue limpo, não bata nos outros, ponha as coisas de volta onde as encontrou, limpe a bagunça que você fez, não pegue coisas que não são suas, diga que você sente muito quando machucou alguém, lave as mãos antes de comer, puxe a descarga, biscoitos e leite quentinho fazem bem.
V
iva uma vida equilibrada: aprenda um pouco, pense um pouco, desenhe e pinte e cante e dance e brinque e trabalhe um pouco... Todos os dias. Tire um cochilo todas as tardes. Quando você sair por ai preste atenção no trânsito e caminhe, de mãos dadas, junto com os outros.
O
bserve os milagres acontecerem ao seu redor. Lembre-se do feijãozinho no algodão molhado, no copinho plástico. As raízes crescem por baixo e ninguém sabe como e porque, mas todos somos assim. Peixinhos dourados e porquinhos da Índia e ratinhos brancos e mesmo o feijãozinho do copinho plástico – todos morrem. Nós também.
E
 lembre do livro do Joãozinho e Maria e a primeira palavra que você aprendeu, sem perceber. A maior palavra de todas: OLHE! Tudo o que você precisa mesmo saber está ai, em algum lugar. As regras básicas do convívio humano, o amor, os princípios de higiene; ecologia, política e saúde.
P
ense como o mundo seria melhor se todos, todo mundo, na hora do lanche tomasse um copo de leite com biscoitos e depois pegasse o seu cobertorzinho e tirasse uma soneca. Ou se tivéssemos uma regra básica, na nossa nação e em todas as nações, de pôr as coisas de volta nos lugares onde as encontramos e de limpar a nossa própria bagunça. E será sempre verdade, não importa quantos anos você tenha: se você sair por aí, pelo mundo afora, o melhor mesmo é poder dar as mãos aos outros, e caminhar sempre juntos.                                                   (Autor: Robert Fulghum)

A HISTÓRIA DE HELEN KELLER (1880-1968)


Defensora pioneira dos direitos dos deficientes físicos, Helen Keller nasceu em Tuscumbia, no estado do Alabama, nos Estados Unidos. Confinada a um mundo silencioso e escuro depois que uma doença a deixou surda, muda e cega com 19 meses de idade, ela se tornou uma criança destrutiva e voluntariosa. Quando estava com 7 anos, a família contratou Anne Sullivan (1866-1936), uma aluna recém formada do Instituto de Surdos Perkins, como professora e governanta. Após apenas duas semanas, um grande progresso ocorreu quando Helen entendeu a palavra “água” que Anne soletrava em sua mão e, a partir daí, uma ligação que durou toda a vida foi estabelecida entre ela e a professora.
Em 1900, Helen Entrou para a Faculdade Radcliffe. Anne Sullivan a acompanhava em todas as aulas e soletrava as palestras desenhando as letras com os dedos na palma de sua mão. Quando uma revista feminina pediu que Helen escrevesse sua autobiografia, Anne contratou o professor Jhon Macy para assessorá-las. “A História da Minha Vida” foi publicado em 1902. Em 1904, Helen se formou com louvor. Anne e Jhon se casaram no ano seguinte, ficando juntos até 1913.
Em 1906, quando o estado de Nova York estabeleceu sua primeira Comissão Estadual para Cegos o governador nomeou Helen Keller para a comissão e ela e Jhon Macy cruzaram o país para angariar fundos. Helen também lançou uma campanha contra a oftalmia neonatal (cegueira nos bebês) tornando-se a primeira pessoa a falar sobre como as doenças venéreas, que podiam ser prevenidas, causavam essa e outras doenças devastadoras. Posteriormente, no mesmo ano, Mary Ages Thomsom (1885-1960) foi contratada como governanta.
Em 1924 a Fundação Americana para Cegos chamou Helen para ser a sua porta-voz. Ela continuou participando ativamente de muitos movimentos por reformas sociais, incluindo ações em prol da abolição do trabalho infantil e da pena de morte. Depois da morte de Jhon Macy, em 1936, Mary Agnes passou a acompanhar Helen. Na década de 1930, Helen conseguiu fazer um lobby eficaz em Washington pela Fundação Americana para Cegos, ajudando a obter serviços de leitura e livros gravados, financiados pelo governo federal, e influenciou na decisão de incluir os cegos na categoria de crédito escolar, sob o Ato de Seguridade Social.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Helen Keller percorreu hospitais militares para levantar o moral e, na década de 1950, fez turnês de palestras na África do Sul, Oriente Médio e América Latina, representando os deficientes visuais. Depois da morte de Mary Agnes Thomson, em 1960, Helen se retirou da vida pública. Em 1964 recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade.
Entre os livros de Helen Keller estão: “O Mundo em que Vivo” (1908) “Saindo da Escuridão” (1913), “No Meio do Caminho: Minha Vida Posterior” (1930), “Vamos ter Fé” (1940), “Professora: Anne Sullivan Macy” (1955), “A Porta Aberta” (1957). Ela também fez dois documentários sobre sua vida: “Libertação” (1918) e “Helen Keller em Sua História” (1954).

(Do livro "Cem mulheres que mudaram o mundo", de Gail Meyer Rolka, Ed. Ediouro)

As cem linguagens da criança

A criança
é feita de cem.
A criança tem
cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre cem
modos de escutar
as maravilhas de amar.
Cem alegrias
para cantar e compreender.
Cem mundos
para descobrir,
Cem mundos
para inventar,
Cem mundos
para sonhar.
A criança tem
cem linguagens
(e depois cem cem cem)
mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem as mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
de descobrir o mundo que já existe
e de cem
roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas
que não estão juntas.
Dizem-lhe:
que as cem não existem
A criança diz:
ao contrário, as cem existem.
(Loris Malaguzzi)